sexta-feira, 15 de maio de 2009
Quando ela passou a acreditar que não valia a pena? É uma incógnita. Ela segurou com as unhas as ultimas e espinhentas esperanças até se dar por vencida, como alguns duvidavam. Ela ria, gargalhava e se sentia um tanto quanto vulgar tentando mexer o cabelo de forma atraente naquela direcção. Então, a partir daquele dia, ela não quer mais olhares, nem tentar se firmar sob uma concepção moderna e popular. Ela transbordava vontade, e hoje ela possui um quase deserto entre as pálpebras e as pupilas. Tentaram alguns a olharem mais profundamente, mas, eles olham, não enxergam. E com o rosto impassivo, ela podia ver expressões que dançavam lentamente entre: desejo, obsessão, desejo, gula, desejo, nojo, nojo. Nojo. O nojo vinha dos olhos dela, pois somente enojando-os ela acreditava conseguir repulsa deles. E estava enganada, o ser humano quando não está enlameado pela própria produção agrícola de excrementos fecais, ele acredita estar em um patamar superior ao dos sapos. exactamente quando somos jogados a nossa lama é que nos purificamos. Estes que não se afastavam com o fatal olhar, estes nunca sairiam da concepção anfíbica que ela os classificava. Paradoxalmente difícil de entender, mas, então as lágrimas parecem não cair da mesma forma rápida e instantânea, por que você está na lama. E ela estava na lama. Sua expressão impassiva denunciava toda a angustia e sensatez. Eles não enxergavam, só olhavam. Olhavam-na passar, olhavam sem nunca entender o real motivo do desprezo inicial. Explicar ela não conseguia, juntar-se a alguém, tentar ser mais próxima que pele e pele era improvável, estava fora dos seus olhos secos e perdidos, olhando desfocadamente para cima enquanto eles estavam tão perto que um simples movimento tornaria a noite teatral. Nobreza e simpatia deslizavam sobre a sua imagem, tentando conquista-la com um ramalhete ou uma frase bem gravada de um filme clichê americano. Antes, ela até acreditava e tentava procurar ainda que passiva dentro das pupilas, e não via nada mais do que sapos, sapos e sapos. Andou quarteirões inteiros, com uma mão no bolso da camisa, e a outra mexendo em seus cabelos. Chuviscava, e ela nem notava. Sentou-se em um degrau, e puxou o capuz, mal notando a extrema dificuldade de sentar em algum lugar daquela escada movimentada de semelhantes jovens noturnos. Furtivamente, alguns olhares a atravessaram, alguns a criticavam, alguns a reconheciam, mas, acredito que nenhum chegou a falar sobre ou com ela. Ela exalava um certo teor de dúvida. Ficou a brincar com algumas pedras no chão, entendiou-se, sustentou o queixo com a palma da mão até a tornar vermelha o suficiente, balançou os pés quando eles começaram a incomodar formigando... Entretanto, olhou para cima. Olhou para frente, e enxergou. Enxergou alguém que a enxergava. Ela poderia ter agido infantilmente, ter pulado de alegria, ou exposto em cartazes pela cidade, mas, cautelosamente, ela observou o rosto, e reconheceu cada pedacinho dele, cada curva e as fendas ao lado do sorriso torto. Sustentou o olhar, não o desviaria até resolver para que lado correria, ou aonde acharia protecção para esconder as suas olheiras e conceitos ridículos. Ele caminhou, caminhou, caminhou, e fez um sinal de reconhecimento. Ela não conseguia mover um músculo do corpo, sempre a presença a deixava mais e mais inconsequente, de uma forma que ela nunca fora. O poder que ele possuía, ela mesma colocara nas suas mãos infantis, e este, meus caros, este era infantil, e ela gostava. ( Farei uma pausa para um pequena critica a idiotice feminina que obstantes da incredulidade mundial em sentimentos profundos, a gente ainda faz o favor de intitular os mais inescrupulosos seres para serem nossos únicos a enxergar, ok) . Então, carregada de veneno, levantou-se bruscamente, pode sentir os dedos longos dele apertarem seu braço, e com uma força irreal puxou. O toque propiciou um avalanche de sentidos em um só lugar. Sentiu o cheiro de lavanda do sabonete dele, ouviu a sua voz sempre meio irritante com aquele sotaque sulista, a sua pele quente ainda perdurava a dela fria e áspera. Ela andou rápido, e ele não a acompanhou. Ela era eterna com ele, ele era eterno com ele mesmo e mais ninguém. Ela de alguma forma superior a ele, estava na lama, pelo menos a lama era dela. Ele estava a dançar com os sapos, os sapos que ela inveja mais do que tudo, os sapos que ela pagaria para ser, os sapos que ela comeria vivos nos olhos de outros, nos dele, ela os abraçaria. E assim, ela o fez. Mão no bolso da camisa, outra mexendo no cabelo, cabeça baixa, andar errante, olhar perdido, e sorrindo ela foi andando pela lama, tropeçando e rindo, caindo e levantando, mas, sem desejar mais os sapos de autoria dele, estes ela não veria mais nem que tivesse que engolir outros sapos. Estes? Nunca mais.
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